Por Marina Maki Moriya
A Fitoterapia no Brasil nasceu e sobrevive dos conhecimentos passados de nossos antepassados na consciência popular que reconhece sua eficácia e legitimidade. Hoje em dia há instituições e prefeituras que trabalham com fitoterapia, atendendo a população, porém ainda não há apoio oficial do Ministério da Saúde.(Brasil, 2008) Dados da Organização Mundial de Saúde, 84% da população mundial utiliza plantas medicinais para tratar da saúde, e em sua maioria entre elas, são pessoas pessoas de países em desenvolvimento no mundo dependem da medicina tradicional para complementar para suas necessidades básicas de saúde, e que em torno de 85% da medicina tradicional envolve o uso de extratos de plantas (Brasil, 2006)
Através da Portaria nº 971 de 3 de maio de 2006, o Ministério da Saúde disponibiliza opções terapêuticas e preventivas aos usuários do SUS, o uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos afirma, baseado em levantamento realizado em 2004, que 116 municípios de 22 estados fazem uso da fitoterapia, portanto, os tratamento fitoterápicos são amplamente utilizados no Brasil como pratica integrativa terapêutica, em destaque por aqueles que estão em tratamento de doenças crônicas e fazendo uso de outros medicamentos, fazendo assim uma complementação do tratamento, aumentando também a adesão do paciente ao tratamento. (ANVISA, 2007)
A revitalização das práticas médicas antigas, possui grandes benefícios, hoje em dia é considerada como medicina integrativa, contribuindo para a forma predominante gradual destas modalidades, uma vez que sua organização vá se tornando mais ampla e integrada, permite respostas mais apropriadas aos efeitos e consequências gerados pela mecanicista especialização excessiva dos métodos terapêuticos convencionais. (Brasil, 2011)
A fitoterapia vem sendo a medicina integrativa que mais cresce ao longo dos anos, o fator mais relevante para esse crescimento se resume na evolução dos estudos científicos, em destaque a descoberta da eficácia de plantas medicinais, principalmente as utilizadas pela população com finalidade terapêutica, através dos estudos químicos e farmacológicos.(Brasil, 2010)
Considerando que a atenção básica se baseia nos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social e que este nível busca a atenção integral, tomando por base o sujeito em sua individualidade e em seu contexto sociocultural,(OMS, 2014) Se torna estratégica ações e serviços de fitoterapia na atenção básica, enquanto prática integrativa e complementar.
Sobre esses benefícios podem ser destacados a validação do conhecimento popular e tradicional de comunidades sobre o uso das plantas medicinais nas práticas das Unidades Básicas de Saúde (UBS),(PAGANI, 2006) aumentando a autoestima e a adesão dos indivíduos e do coletivo ao tratamento proposto, a partir da familiarização com a terapêutica ofertada, o usuário entendendo e conhecendo o seu tratamento, a comunidade começa a gerar laços com as equipes de saúde. A experiência da comunidade sobre o uso das plantas medicinais e seus preparados, e disponibilizando a eles o uso dessa prática nas UBS, permitindo a troca de saberes e experiências e contribuindo para a construção do conhecimento sobre plantas medicinais, incentivando seu uso racional. (SALES, 2004) Outra possibilidade é a redução da polifarmácia pelo acréscimo de opções terapêuticas aos pacientes no cotidiano das UBS.
Outro benefício é o crescente interesse em melhorar as condições que garantem a qualidade, segurança e eficácia destas drogas vegetais e medicamentos, focando especialmente em países em desenvolvimento onde há maiores porcentagens de uso, com o objetivo de evitar efeitos colaterais e danos que possam ser causados pelo mau uso desta modalidade terapêutica, e aumentando o seu uso racional.(ALEXANDRE et al. 2008) O ministério da saúde estabelece políticas para o desenvolvimento de estudos com plantas medicinais com o objetivo de colocar em prática os benefícios destas pesquisas. (ANVISA, 2008)
O governo tem interesse em políticas e programas que associam o conhecimento popular com o científico, assim ao longo dos anos vão se criando portarias e programas relacionados a plantas medicinais e fitoterápicos no SUS, como o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais (PPPM) da Central de Medicamentos (CEME),(Brasil, 2009) que deu início ao uso de fitoterápicos no SUS, até a Política Nacional de Assistência Farmacêutica com a resolução nº 338, sobre o acesso a plantas medicinais e produtos fitoterápicos no SUS, tornando disponíveis plantas medicinais e fitoterápicos nas Unidades de Saúde, de forma complementar, (Brasil, 2011) seja no modelo tradicional ou nas unidades de média e alta complexidade, utilizando os seguintes produtos: planta medicinal “natural”, droga vegetal, produto fitoterápico manipulado e fitoterápico industrializado. Pela Portaria nº 886/GM/MS, de 20/04/2010, o SUS instituiu a “Farmácia Viva”, realiza todas as etapas, desde o cultivo, coleta, o processamento, o armazenamento de plantas medicinais, a manipulação e a dispensação de preparações magistrais e oficinais de plantas medicinais e produtos fitoterápicos. (Anvisa, 2008)
Para que esse serviço atinja o sucesso, deve ser constituído por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, atuando em conjunto com os profissionais das equipes diferentes equipes da atenção básica para populações específicas, compartilhando práticas em saúde. (BELEZA, 2016)
A definição dos profissionais que irão compor a equipe profissionais, cabe destacar o papel do farmacêutico no planejamento e desenvolvimento de ações e serviços de fitoterapia, além de sua atuação e gestão em todas as fases da assistência farmacêutica, na atenção farmacêutica e principalmente na promoção do uso racional das plantas medicinais e fitoterápicos. Em relação a essas práticas, cabe implementar ações de alimentação e nutrição, inclusive relacionadas ao uso de plantas medicinais e suas preparações, considerando a realidade sociocultural e epidemiológica das populações. (PAGANI, 2006)
Difundir a criação de hortas com plantas medicinais e hortaliças associadas à alimentação saudável e sustentável, complementando temas de alimentação, nutrição e plantas medicinais.(QUEIROZ, 2000) Fazer-se entender que o uso das plantas medicinais gera-se um leque de possibilidades e vantagens, uma aproximação dos trabalhadores da saúde com a comunidade, o que tornaria a relação entre eles mais horizontal, ampliando assim, as ofertas de cuidado, o que favorece a integralidade em saúde e ampliaria a comunicação entre as equipes de saúde e comunidade. E como citado anteriormente, como recurso terapêutico complementar e adicional, aumenta a capacidade de tratamentos e as ofertas de cuidado do serviço, podendo diminuir ou melhor, permitindo substituir o abuso e dependência de algumas medicações. (SANARE, 2002)
ALEXANDRE, R.F.; BAGATINI, F.; SIMÕES, C.M.O. Interações entre fármacos e medicamentos fitoterápicos à base de ginkgo ou ginseng. Revista Brasileira de Farmacognosia, Brasil, 2008
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